Hoje, foi mais um daqueles dias em que presenciei a tão famosa batalha de gerações. Os mais velhos sempre com o mesmo argumento vazio de que a vida era melhor antes da internet, dos smartphones, das redes sociais e afins. Os mais novos tentando se defender dizendo que conseguem viver sem todos os recursos disponíveis para tentar algum tipo de aprovação com a galera de cabelos brancos.

Essa picuinha não começou hoje, nem vai terminar amanhã. Acredito que presenciaremos isso por toda a nossa vida.

Eu tenho 26, vivi ali na meiúca da transformação digital, quando o computador se popularizou, a internet apareceu, TV a cabo virou commodity e smartphones revolucionaram a comunicação. Sorte a minha. E essa é uma frase clássica de quem quer sustentar este embate entre gerações.

Particularmente, acho essa peleja boba e incapaz de nos guiar para um caminho correto em que o uso do tempo é perfeito e somos todos felizes e satisfeitos com a nossa vida, independente de ter nascido em 1960 ou 1994.

Não quero usar este espaço para falar de pessoas viciadas em tecnologia e que são incapazes de se relacionar com outras pessoas sem ser por meio de um dispositivo. Isso aí já é outra questão. Tão pouco quero falar daquelas pessoas que são “tecnofobas” ou “tecnoavessas” e ainda usam lampião em casa.

O problema da guerra das gerações é justamente olhar para os dois lados com o radicalismo natural de quem quer defender o seu. Acredito que possamos tirar proveito de todas as situações e aprender com todo tipo de gente. Exceto aquelas que tentam lamber o próprio cotovelo, talvez.

Como todo bom saudosista, os mais velhos têm se vangloriado de terem usufruído uma infância de liberdade, batendo bola com os amigos na rua, soltando pipa, subindo em árvore para comer fruta do pé e por aí vai. Existe quase um tom poético ouvir isso. E concordo que deve ter sido do caralho mesmo. Para eles.

Porque enquanto eles subiam no pé para comer goiaba, na casa deles a tecnologia mais avançada era o rádio, a geladeira e a televisão (quando tinha!).

Nessa guerra de gerações, parece que os culpados são os mais novos que não sobem em árvore nem sabem viver sem seus gadgets. E eles realmente não deveriam! Nasceram jogando videogame, assistindo televisão colorida, pesquisando trabalho no Google… folhear revista? Só no tablet! Já nascem sabendo. Conheço crianças de quatro anos que estão 60 fases a sua frente no Candy Crush.

Pergunto: essa nova geração está errada por viver no tempo dela? Usufruir dos benefícios de ter nascido após os anos 90 e 2000?

É errado os mais velhos sentirem saudades do tempo em que eram crianças? Também não. A nostalgia faz bem, acalma, mas não pode virar uma dose de sonífero ou ignorância. O mundo não vai retroceder porque você quer que as pessoas usem menos celular e fiquem menos tempo na internet.

Deixa a mulecada tuitar, mandar foto no Snapchat, Slingshot (superior!), marcar para comer pizza pelo Whatsapp, chegar lá e conversar entre sim pelo Whatsapp. Tudo isso é imersão no próprio tempo. É viver o tempo em que está.

Como eu disse lá no começo, devemos tentar tirar o melhor proveito de cada situação. E a situação é a seguinte e já foi provada: o mundo evolui para servir a quem está por vir, não quem já está nele. Essa geração inteira que vive conectada vai ajudar a construir um mundo cada vez mais conectado, afinal, é a geração mais nova quem muda o mundo. Quem inventou a maior rede social do planeta não foi um cinquentão. Quem inventou o Google também não. E é assim que a roda vai continuar girando.

Então, por que ao invés de menosprezar as experiências que a garotada está vivenciando a gente não tenta aprender um pouco mais com eles? Idade só traz sabedoria se a gente passar anos ouvindo e não reclamando de tudo.

 

Postado por André

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André Fantin

Editor do Repertório Criativo, publicitário e escritor por teimosia. Atualmente vive na Irlanda em busca de inspiração.