Hoje, todas as empresas que estão no mercado têm uma marca, um símbolo que as represente, ou pelo menos identifique sua fachada. As marcas nasceram há muitos anos, em uma época em que nem mesmo havia empresas. Então de onde surgiu essa ideia de simbolizar as instituições?
Muito provavelmente tenha nascido nos campos de batalha, onde os exércitos eram representados pelos seus brasões e os cavaleiros carregavam em suas armaduras aquele símbolo. Afinal de contas, no calor da batalha, era necessário identificar quem era aliado e quem era inimigo. Por isso os brasões costumavam ser estampados em elmos e escudos, principalmente.
A adoção dos brasões pelos exércitos começou a partir de 1095, quando o Papa Urbano II, na cidade de Clermont, França, anunciou a luta da Igreja Católica contra os infiéis. Assim começaram as Cruzadas.
Entre 1135 e 1155, a utilização desses símbolos por senhores feudais se espalhou pelo continente europeu. Leões rompantes, águias e flores-de-lis começaram a povoar os escudos. Nesses primeiros tempos, muitas das cotas de armas eram criadas pelos próprios cavaleiros que as utilizavam – não eram concedidas por nenhuma autoridade.
Com o tempo, a coisa toda foi se espalhando e os brasões foram tornando-se cada vez mais complexos, além de passarem a respeitar algumas regras. Como a fusão de brasões de duas famílias através do casamento. Mas foi somente no século XIV que se consolidou o sistema de codificação e organização dos emblemas, a heráldica.
Logo, os brasões tornaram-se hereditários, deixando de ser apenas representativos. Com os o passar dos anos, os emblemas distinguiam efeitos heroicos ou serviços prestados aos senhores feudais, ao rei, a atividades agrícolas, ou dos antepassados, até mesmo a fauna e flora da região de seu dono.
Nesse cenário, os brasões deixaram de servir como forma de identificar exércitos e se tornou algo muito mais individual e também, nobre. Em alguns casos, os brasões eram pré-requisitos para que os cavaleiros pudessem participar de certos torneios. Quem assistiu a Coração de Cavaleiro sabe do que estou falando.
Apresentar um brasão era a indicação de que seu possuidor pertencia à nobreza. “Ao longo do campo onde se realizava o torneio, ficavam as tendas dos competidores, todas com seus brasões expostos. Quando se encaminhavam para a arena de combates, seus arautos, carregando seus brasões em escudos, anunciavam em voz alta sua família e seus títulos”, escreve o historiador Stephen Slater.
De lá para cá, a arte heráldica continuou a povoar o brasão das famílias nobres. “Hoje ela pode ser vista em bandeiras de países, símbolos de universidades, hospitais, clubes e seleções nacionais. Seu uso permanece o mesmo. Oferecer uma identificação rápida para que os iguais se reconheçam”, afirma Michael Allen, professor da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.
A família de Kate Middleton encomendou um brasão antes do casamento com o príncipe William. O brasão traz três carvalhos, representando os três filhos da família, uma seta dourada, representando a mãe de Kate, cujo nome de solteira era Goldsmith (ourives, em português). As cores vermelha e azul foram escolhidas pela sua predominância na bandeira britânica.
Anatomia de um escudo
Um escudo dificilmente tinha apenas um símbolo. Com o casamento entre famílias nobres, era normal a partição do escudo dos descendentes entre as duas casas nobres. Veja como montavam um brasão:
Paquife
Adornando, repete as cores do brasão.
Timbre
Usado para distinguir os cavaleiros em torneios.
Virol
É uma faixa colorida com os padrões do escudo.
Elmo
Possui várias significações: nobreza utilizava elmos de prata, ouro pertence ao brasão do rei. O elmo virado de frente é exclusivo do rei.
Compartimento
O chão onde estão os suportes pode ser uma planície, um terreno rochoso ou algo que remeta à terra natal da família
Escudo
Diversos formatos de escudo foram utilizados ao longo do tempo. Como regra geral, os escudos de mulheres são em formato de losango.
Lema
Pessoas de qualquer patente de nobreza pode adotar um e colocá-lo no brasão
Suportes
São elementos da natureza, figuras mitológicas ou personagens representando profissões da família.
Como se forma um escudo
As cores
Estão divididas entre metais, esmaltes e peles. A regra fundamental é nunca misturar metal com metal, nem cor com cor, em um mesmo escudo – as peles podem substituí-los. Os nomes das cores vêm do francês antigo. Or significa ouro, enquanto argent designa prata. Azure (azul) deriva da palavra árabe para lápis-lazúli, enquanto sable (preto) faz referência ao escuro pêlo da marta. Gules (vermelho) vem da palavra francesa gueules, numa referência à garganta dos animais. As peles fazem analogia à padronagem de animais peludos, como os pequenos arminhos. Escudos que rompem essa regra são chamados armes fausses (armas falsas).
As faixas
Outra maneira de incrementar e diferenciar um escudo é por meio das partições e peças que cortam a área dele ou lhe adicionam faixas em diferentes direções. De modo geral, para que se mantenha uma descrição uniforme de um escudo, mencionam-se seus elementos da seguinte maneira. Primeiro, a cor do campo (o fundo) e, então, as tinturas das diferentes partes e objetos do escudo. Como regra geral, descreve-se do alto para baixo e da direita para a esquerda – sempre em referência a quem segura o escudo, e não a quem vê.
Os símbolos
O uso de símbolos e animais é o toque final na composição de um escudo. Animais, por definição, sempre olham para a direita. O leão é o predileto porque representa força, coragem, nobreza. Mas também são comuns águias, ursos, lobos, cavalos, javalis e até coelhos. Chaves cruzadas, simbolizando as chaves de são Pedro, estão presentes nas insígnias papais. Outros objetos, representando dinastias (flor-de-lis, símbolo da realeza francesa) ou guerra (peças de armaduras), eram comuns. Animais quiméricos, como o dragão (associado a são Jorge, o padroeiro da Inglaterra), o grifo, o centauro e o unicórnio também eram utilizados. O maior símbolo cristão, a cruz, também esteve sempre presente.
A evolução dos símbolos depois de sucessivos casamentos
Um escudo dificilmente permanecia pleno, isto é, com apenas um símbolo. Com o casamento entre famílias nobres, ocorria a partição do escudo dos descendentes entre as duas casas nobres. As regras de partição são relativamente simples, como demonstra o exemplo abaixo.
Se um nobre (sir Bastin II) possui um filho homem, ele (sir Bastin III) leva o escudo da família consigo. Já a filha desse senhor feudal (miss Bastin) não terá direito de colocar o brasão de sua família quando se casar com alguém – porque ela não é a herdeira da casa. Ou seja, quando sir Bastin III tiver seu filho, esse herdará o brasão da família. Porém, quando miss Bastin tiver seus filhos (sir Francis II e miss Francis), eles não herdarão o brasão dela, mas o brasão do pai (sir Francis).
Repare, no entanto, que se um senhor feudal não tiver herdeiros homens (sir Edgard), sua filha (miss Edgard) passa a ter o direito de estampar o brasão de sua família naqueles que são seus descendentes. É por isso que sir Bastin IV, filho de miss Edgard, possui o brasão fendido em duas partes, cada uma representando o brasão de seus pais.
A Auriflama Francesa
Além do óbvio uso nos escudos, os símbolos heráldicos quase imediatamente apareceram também nas bandeiras empunhadas pelos exércitos. Ser o porta-bandeira era uma tarefa de alto prestígio, embora se esperasse desse indivíduo que, caso as coisas fossem mal, morresse defendendo o estandarte. Uma das mais tradicionais, senão a mais tradicional bandeira de guerra, era a Auriflama Francesa, utilizada em diversas batalhas na Guerra dos Cem Anos. Acredita-se que era uma faixa comprida de seda vermelha e adereços dourados, consagrada a são Denis, o padroeiro da França. Durante o período de paz, a bandeira era guardada na Catedral de Saint Denis, onde estavam sepultados quase todos os reis franceses. Na guerra, era utilizada nos momentos mais dramáticos, quando se precisava de uma vitória a qualquer preço. A bandeira era então levada para a frente de batalha, enquanto os soldados urravam seu grito de guerra: “Montjoie Saint Denis!”
Postado por André via Guia do Estudante
Leave a Comment