A pauta não é nova e tão pouco tem apoio popular, mas apesar da pressão pública que tem acontecido nos últimos dias, tudo indica que as operadoras de telecomunicações vão conseguir o que querem. Limitar a sua internet e nos levar para os velhos tempos em que comunicação instantânea era sonho para o futuro.
A comparação é tão dramática quanto a situação e o momento em que esta decisão está sendo tomada é tão estratégica quanto maquiavélica. Em meio a um caos político que domina a mídia e boa parte da opinião pública, especialmente a ligadas aos movimentos sociais; Vivo, Net, Oi, Claro e Sky pressionam a Anatel para oferecer pacotes limitados de internet aos seus clientes com a justificativa de melhorar o serviço.
Se você esteve um pouco envolto em outros assuntos nas últimas semanas e realmente não sabe o que essa reviravolta significa, vamos começar esclarecendo questões técnicas.
Quando você acessa a internet, abre seu email, checa seu Facebook, assiste a vídeos no YouTube ou Netflix, você está consumindo dados. E claro esses dados variam de acordo com o conteúdo que você está consumindo. Um vídeo “consome mais internet” do que um texto ou uma foto, ou uma música por exemplo.
E ao que tudo indica, o maior pacote de dados que será oferecido aos usuários é o de 130GB. Não quero nem imaginar o preço. E apesar de 130GB parecer muita coisa, não é. Acabei de checar quanto consumi de internet no último mês e, entre os dias 14 de março e 11 de abril meu consumo total foi de 366.95 GB. Peguei leve esse mês.
Somos quatro pessoas compartilhando internet em nossos computadores, vendo alguns vídeos no YouTube, navegando por sites e serviços de stream como Spotify e Netflix. Enfim, uma vida normal no século XXI.
O que está sendo proposto, no entanto, é que pessoas como eu e você abram mão das conquistas que a era da tecnologia nos trouxe. Parece um mimimi desnecessário reclamar por ter que abrir mão de alguns vídeos e músicas, mas na verdade não é. Pare e pense por um instante como a forma que você consome informação mudou nos últimos dez anos. O YouTube tornou-se uma plataforma tão popular que deu oportunidade para verdadeiros anônimos se expressarem e influenciarem uma geração inteira que está crescendo longe da TV, prestando mais atenção em Kéfera do que Xuxa.
A popularidade da internet fez nascer espaços de opiniões que hoje se espalham por blogs, fez surgir os Instagramers e proporcionou o crescimento de indústrias inovadoras como Spotfy e Uber. Tudo graças a uma internet livre de amarras.
Barrar a internet livre também significa barrar as inovações que ainda estão crescendo e ainda por vir. Todo o sistema de backup em nuvem como Dropbox, iCloud e sistemas de gerenciamento remoto, como os apps que ligam e desligam a lâmpada da sua casa quando você sai apressado e esquecido.
Mas por que isso está acontecendo então? Por que as operadoras de internet querem frear o consumo de dados de todo o país? A justificativa é algo que já sentimos, eles não conseguem manter a qualidade do serviço com a demanda crescente. Ano passado, a GVT, agora Vivo Internet, começou a limitar o acesso a sites de pornografia, imaginando que seus clientes não teriam coragem de vir a público reclamar que o Xvideos não estava carregando. Veja aqui notícia. Acontece que as pessoas reclamaram e a operadora teve que ir a público com uma desculpa.
Desde a privatização das telecomunicações, o serviço cresceu em todo o país e gerou uma fortuna milionária para as empresas que não se prepararam para oferecer uma estrutura que suportasse a nova demanda. A falha no planejamento agora está sendo revertida em punição para os usuários e o órgão regulador está se acovardando para assumir o lado das empresas, não dos consumidores.
De forma bem prática, é praticamente impossível não notar alguns pontos bem importantes sobre essa movimentação da Net, Sky, Claro, Oi e Vivo. Além de oferecer serviços de internet, elas também são empresas de tv a cabo e telefonia que vêm travando batalhas judiciais contra empresas nascidas na internet e que reduziram seus lucros consideravelmente utilizando da estrutura que eles mesmo oferecem.
Na visão dessas empresas, Netflix, YouTube, Whatsapp, entre outros são parasitas que se instalaram em seu modelo de negócio e continuam crescendo, se alimentando de uma estrutura que eles criaram.
Em uma visão errônea sobre posologia, as gigantes de telecomunicação querem cortar o suprimento que vai até o parasita, esquecendo-se de que assim também enfraquecem todo o organismo. Os milhões de Reais que flutuaram do bolso dos clientes para o bolso das cias de telecomunicações durante anos deveriam ter sido suficientes para que elas criassem um sistema igualmente inovador quanto o das empresas que acusam de parasitas.
Mas a velha tática de levar a briga para o campo jurídico e penalizar quem tem nada a ver com a história é sempre o caminho mais conveniente para aqueles que aprenderam a crescer na base de um sistema que apenas replica os poucos sucessos que outros lá fora conseguiram alcançar.
Se você quer saber mais sobre o assunto, acompanhe o Movimento Internet sem Limites no Facebook.
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